Jorge Chaloub
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Botafoguense e professor de Ciência Política na UFRJ/UFJF.
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O ator central da atual crise é o Exército. O bolsonarismo, inclusive os próprios militares, parece apostar e trabalhar para o cenário do golpe boliviano: caos social que justifique a ação das FA como poder moderador.
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O editorial da Folha não surpreende pela defesa da austeridade, já recorrente. O interessante é agora se admite abertamente que Dilma caiu pela economia. Como escrevi recentemente com o Pedro Lima, a ideia de uma legitimidade ecônomica anterior à democrática já se normalizou.
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A vitória de Milei é uma tragédia. O resultado rotiniza a ultradireita e coloca em claro risco uma das principais democracias do Sul Global. Mesmo que ele seja mal-sucedido em seus planos, a simples existência do seu governo normaliza propostas antes inaceitáveis.
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1- Milei não é Trump ou B*lsonaro. As comparações expõe algo, mas tem ofuscado o que distingue o candidato e o torna particularmente perigoso. O centro da campanha do argentino é defesa de um individualismo radical e de uma ruptura com qualquer resquício de soberania nacional.
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A política científica e de educação superior do governo é lamentável e indefensável. As universidades não tem orçamento para funcionar, há restrição de verbas pra pesquisa, a condição dos institutos é precária e a proposta é repatriar cientistas? Para trabalhar em que condições?
CNPq diz que governo tentará repatriar mil cientistas por meio de programa
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A polêmica da vez sobre o discurso da corrupção e a esquerda tem ignorado o que me parece ser o ponto central da questão: não se trata de reivindicar ou não um discurso anticorrupção, mas do modo como se constrói essa narrativa.
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Há um entusiasmo com a chapa Lula-Alckmin que representa as opções políticas mais à esquerda como intrinsecamente negativas. Contra a esquerda "infantil", "radical", "sectária" ou definida por adjetivos piores, a escolha "madura" e "virtuosa".
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O editorial da Folha é mais um capítulo no processo de normalização da ultradireita no Brasil, que não pode ser compreendido sem a atenção para o papel central da mídia. Tratar B*lsonaro como alguém que pode dar "vigor" à democracia é tornar rotineira a violência que ele fomenta
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Olha que sou tolerante à transmissões horríveis, mas a vontade causada pela narração do Gustavo Villani hoje era cancelar o Premiere. Assisti com a TV muda boa parte do jogo. Desrespeitoso com o Botafogo, incapaz de entender o jogo, simplesmente insuportável.
#premiere
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O artigo publicado pelo Luigi Mazza, na Piauí , reproduz um senso comum bem complicado: a ideia de que o bolsonarismo seria a expressão de um novo e verdadeiro Brasil, ao qual ele contrapõe a visão de país do Tropicalismo, interpretação hegemônica das elites e das esquerdas.
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Para entende a colaboração de boa parte da grande imprensa para a catástrofe atual, talvez seja mais interessante olhar para personagens como Elio Gaspari que para os editoriais caricatos do Estadão
Na sua coluna de hoje, Gaspari expõe sua ojeriza à esquerda de várias maneiras:
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1- Qualquer que seja o resultado da eleição argentina amanhã, a forte candidatura de Milei reforça uma tendência contemporânea: as eleições não são mais de uma disputa sobre os caminhos da política democrática, mas se tornam um plebiscito sobre própria existência da democracia.
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O esforço de negar que Milei seja de extrema-direita produz o efeito contrário e revela o que muitos desejam ocultar: o papel de versões extremadas do liberalismo econômico no campo da extrema-direita brasileira.
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A crença na existência de um ator social "independente" de pressões políticas e pautado apenas por critérios "técnicos" soa ridícula aos ouvidos de qualquer pessoa bem informada sobre os debates dos últimos 3 séculos. Infelizmente não parece ser o caso de parte dos economistas.
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A matéria ilustra as afinidades eletivas entre parte da mídia e Arthur Lira. O presidente da Câmara aparece cada vez menos como "fisiológico" e passa a ser muitas vezes retratado, não apenas na Veja, como representante de um projeto alternativo de país, mais liberal na economia.
Ministra da Saúde enfrenta acusação de irregularidade por pesquisa da Fiocruz e disputa por seu cargo
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Pazuello é a clara demonstração do senso autoritário de superioridade dos militares, que se pensam como moral e tecnicamente superiores aos civis. É algo grave e perigoso, mas também soa ridículo quando se combina a alguém tão limitado quanto ele.
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O movimento de Freixo pode ser melhor compreendido se forem deixados de lado os excessos moralistas e o fetiche pela moderação. Freixo parece buscar construir um campo de centro-esquerda não petista, sem apostar no antipetismo. O movimento coordenado com o Dino aponta pra isso.
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O resultado do Rio é uma vergonha para toda a esquerda, sem exceções. Um erro crasso com muitos responsáveis, que impediu um movimento importante . A presença de Boulos e Freixo no 2 turno dos 2 maiores colégios seria uma enorme vitória, impedida por uma série de equívocos.
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1- Tenho visto nas análises sobre Milei um problema constante: o pressuposto de que, ao modo de um neoliberal tradicional, ele buscaria "eficiência". O anarcocapitalismo do argentino é, porém, um radicalismo moral, que se justifica a partir de princípios, não de resultados.
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Mais impressionante do que o movimento autoritário do Exército, um sinal de insubordinação ao Presidente eleito democraticamente, é a reação moderada da mídia e das instituições ao caso. Alguns colunistas apontaram o absurdo, mas a resposta é tímida ante a gravidade do ato.
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Os bizarros elogios a Paulo Guedes não são fato isolado na carreira de Samuel Pessoa, mas caminham ao lado da defesa da original ideia de que a "PM protege negros pobres", da ideia de um caráter intrinsecamente autoritário do PT, da oposição entre a Constituição e o orçamento, +
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A imprensa precisa refletir sobre a responsabilidade da seleção das suas fontes. Vender sócio de banco de investimentos como analista sério, mesmo que o mesmo não demonstre qualquer qualidade intelectual para tanto, é não apenas reproduzir um discurso interessado, mas desinformar
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A criminalização da posse de todas as drogas é um claro aceno às experiências internacionais autoritárias e punitivistas da ultradireita, como Bukele e Duterte. Pacheco, assim como boa parte da "direita tradicional", vê na pauta um caminho para se afirmar como líder de massas.
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Acabei de ler um fio do
@rrandres
sobre o favoritismo de B*lsonaro em 2022. Há bons pontos, mas tenho algumas discordâncias. Boa parte delas decorre de um ponto fundamental: Bolsonaro é forte para o desastre do seu governo, mas fraco para um presidente em 1 mandato.
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O debate sobre a vacina expõe um procedimento do ultraliberalismo brasileiro: criar dificuldade para vender facilidade. Primeiro há o trabalho para destruir qualquer sentido público do Estado, depois a acusação de que o público, longamente precarizado, seria por natureza ineficaz
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Muita gente repete algo acriticamente que só autores à esquerda são lidos nas faculdades de humanidades. O tema mereceria uma pesquisa sistemática de programas de curso, mas, pelas instituições que acompanho e lugares que já lecionei, me parece falso.
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Por outro, o movimento consolida certo processo de criminalização da esquerda no debate público, que foi lentamente gestado ao longo dos anos. É como se mesmo uma esquerda moderada, como o petismo, só pudesse disputar legitimamente o poder em coalizão com a direita.
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Vale repetir o óbvio no Brasil contemporâneo: opinar sobre as eleições é desvio das funções constitucionais das Forças Armadas e, como tal, deveria não apenas ser rechaçado pelos democratas, mas ser punido nos termos da lei, com a responsabilização dos comandantes envolvidos
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O texto é um exemplo de como alguns influentes economistas manejam mal conceitos (o uso de populismo aqui é um caso..) e mergulham nas falsas equivalências. Mendes trata de modo equivalente a "corrupção recente do PT" e a Ditadura de 64 que teve na tortura uma política de Estado.
Coluna de hoje: o populismo de direita e de esquerda se assemelham nos métodos, enfraquecem instituições e empobrecem o país.
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O crescimento da ultradireita tem como uma das suas principais causas a normalização de discursos antidemocráticos na mídia tradicional. Em nome de um conceito precário de liberdade de expressão, mesmo ideias fascistas passaram a ser toleradas e minimizadas.
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O centrão e os militares não "aderem" ao bolsonarismo, eles são parte central da coalizão que levou Bolsonaro ao poder e o sustentou até aqui. Não estamos diante de apoiadores tardios ou "pragmáticos", mas de protagonistas do fenômeno.
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O objetivo do Bosco é, como sempre, produzir reações agressivas, que "confirmariam" seu argumento e dariam atenção a quem, pelo que escreve, tem pouca relevância. É mais interessante compreender as razões do seu espaço midiático, que diz muito sobre o debate público brasileiro.
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1- Ouvi a entrevista do Paulo Arantes para a
@ilustrissima
e mais dos que as sugestões interessantes, que sempre surgem nos seus textos e fala, fiquei impressionado em como o podcast expõe alguns cacoetes comuns das "interpretações do Brasil" de certa intelectualidade uspiana.
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Talvez essa seja a opção mais prudente nesses tempos duros, mas me incomoda a representação da necessidade como virtude suprema e os sensos comuns em torno do conceito de "moderação", que frequentemente apenas naturaliza os valores dos autores, em boa parte das análises políticas
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Pessoal, publiquei pela editora UFJF um e-book com alguns dos textos nos quais, ao longo dos últimos anos, tentei interpretar a crise da democracia a partir do pensamento político-social brasileiro. Ele está disponível, de forma gratuita, aqui:
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Qualquer que seja o resultado do campeonato, o Botafogo já tem um mérito: mostrar quão tosco é o nosso jornalismo esportivo. O esforço de mostrar o que falta no time, sem analisá-lo, e a postura birrenta da imprensa tem no Troca de Passe de hoje um ótimo exemplo.
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O conceito de "populismo" ganha cada vez mais força como explicação para todos os males e solução para as mais diversas questões. Se o autor está diante de qualquer coisa que discorde, basta usar a palavra mágica, ou chamar os responsáveis de "populistas", que tudo se resolve.
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Os elogios públicos de Haddad a um texto que defende a desvinculação das aposentadorias e do BPC do salário mínimo, além da da relativização dos mínimos constitucionais pra saúde e educação, revelam um projeto político e traem uma leitura míope da conjuntura.
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Isso quer dizer que a esquerda deve esquecer o tema da corrupção? Não. Mas é necessário relacioná-lo a um imaginário mais amplo do que a apropriação individual de recursos do Estado, vinculando-o ao tema da desigualdade, com ênfase não apenas no Estado, mas sobretudo no mercado.
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Não apenas os intelectuais públicos do campo da economia, com espaço na mídia, como também as arrobas do twitter que tratam do tema, a partir de uma perspectiva ortodoxa, tem como tom mais frequente uma retórica na qual predominam a ironia e o sarcasmo, usados sem moderação.
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O drama é que parte substancial do alto comando do Exército aderiu a e reconstruiu explicitamente ideais de extrema direita. Se em 64 a classe política era mais golpista, hoje temos FA incomparavelmente mais uniformes e fanáticas.
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Por um lado, montar chapa tendo por maior preocupação o respeito às eleições é sintoma da normalização autoritária que vivemos.
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1 A reportagem do Globo sobre o público do Botafogo tem problemas graves de construção do argumento. Digo isso com muito respeito ao bom trabalho do
@jotapfragoso
e do
@thalescmachado
. Faltam contexto e elementos centrais, como o horário dos jogos, sobram lugares comuns.
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Da minha parte, fico com certa sensação de tristeza ao constatar que a maior preocupação da escolha é garantir o respeito ao resultado eleitoral , já que eleitoralmente ainda duvido do quanto Alckmin pode contribuir em termos de voto.
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E claro,a principal questão é como podemos superar a médio e longo prazo uma situação que impede uma ordem democrática no Brasil: o divórcio entre forças de segurança e democracia.
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Vale ressaltar que essa centralidade do Exército é uma das principais diferenças entre o 8 de janeiro brasileiro e a invasão do Capitólio.
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Dizer que a esquerda brasileira está presa à década de 1960 é equivocado de muitas maneiras. (1) Para começar, revela uma visão primária dos anos 1960, algo comum no uso do conceito de "desenvolvimentismo", usualmente mobilizado pela imprensa para comparar coisas bem diversas.
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Por outro lado, temos que lidar com uma base social fascista, com destaque para as polícias, que não é hegemônica, mas é significativa, sem poder contar com forças de segurança. Meu medo é como podemos enfrentar atos golpistas isolados, que emulem idiotas como o Mourão de 64.
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Criminosa a postura do PDT, que faz coro com o conspiracionismo fascista dos asseclas do presidente. A urna eletrônica é comprovadamente segura e auditável. Quem compra esse discurso ou é estúpido, o que torço para ser o caso, ou esta jogando com o que resta de democracia.
“Sem a impressão do voto, não há possibilidade de recontagem. Sem a recontagem, a fraude impera”. Confira meu recado defendendo eleições honestas e verdadeiramente democráticas.
#PDT
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Só para esclarecer o último tweet: mover tanques na direção do congresso é caso de abertura urgente de processo de impeachment, e responsabilização dos militares envolvidos, em qualquer país que pretenda manter uma aparência mínima de democracia.
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O tom moralista das redes, inclusive as de esquerda, tem uma afinidade natural com esse lugar e discurso, mas é fundamental que saiamos dele.
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A criação de instituições paralelas, fieis à liderança autoritária, é um repertório político comum do fascismo histórico. Como a PF criou dificuldades pontuais para o projeto bolsonarista, o governo aparelhou a PRF e a ela conferiu o papel de polícia política.
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Ouvindo os economistas sobre a equipe do governo Lula, fico impressionado como, em regra, eles tem uma reflexão limitada sobre as relações entre o que seus modelos teóricos descrevem do mundo e seus valores políticos, ou, falando mais complicado, entre o descritivo e o normativo.
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O editorial de capa da Folha de hoje mais uma vez demonstra a aposta radical do jornal no apoio ao liberalismo econômico. Em discurso que reivindica a alcunha de "novo", mas é, de fato, bem antigo, a Folha retrata qualquer ação do Estado como "corporativista e clientelista".
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A ideia de que o assassinato de Marielle não é político é tosca e incapaz de incompreender não só o evento, como o cenário político dos últimos anos. O caso não se restringe à simples consequência dos discursos da ultradireita, mas não pode ser compreendido sem tal fenômeno.
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Nas últimas 2 décadas, o discurso anticorrupção teve um papel explícito na criminalização do Estado, sobretudo em sua dimensão social. Isso não ocorreu apenas na frases toscas dos Dallagnois, mas frequentou a bibliografia neoinstitucionalista da Ciência Política e a imprensa.
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Ou facilmente cairemos outra vez em um discurso que inegavelmente teve papel central na construção da tragédia bolsonarista, ao criminalizar, o Estado, o público, a política e as esquerdas.
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É curioso como um dos elementos centrais da crítica dos economistas ortodoxos do Twitter ao artigo de André Lara Resende tem um claro fundamento moral: ele teria sido "desonesto" ou "irresponsável". A impressão é que o debate econômico lida bem mal com a divergência de ideias.
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Pelo que entendi, o semipresidencialismo é a nova "terceira via". Evita Lula, garante as sonhadas "reformas" e ainda tem a grande vantagem de não depender de voto ou eleição, o que não se mostra muito promissor nas pesquisas eleitorais. Voltamos à terapêutica golpista de 1961.
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1-Alarmante a análise do
@OGlobo_Mundo
sobre o atentado contra Cristina Kirchner. No lugar de um claro repúdio contra a tentativa de assassinato, a ênfase na culpabilização da esquerda e da vítima pelo evento.
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O encontro entre discurso anticorrupção e massificação da política produziu no Brasil, sobretudo após 1945, uma frequente criminalização dos discursos mais identificados com os setores mais pobres da população, em fenômeno que teve na UDN seu mais perfeito exemplo.
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O massacre no 1 bloco do debate deixa claro como nossa elite é estúpida, incapaz e preconceituosa a ponto de preferir um completo imbecil como Bolsonaro a Lula.
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A popularidade é uma das razões que afastaram Maia do impeachment. Mas há outra mais importante: a política econômica. Daí decorre o apoio de grande parte da elite política e econômica ao governo. A "escolha" entre as vidas e a "economia" não se limita à retórica do presidente.
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2- há o retrato caricato do "sindicalista" Lula, o discurso vazio em torno da corrupção e a criminalização de movimentos sociais. O repertório pelo qual se naturalizou no debate público a representação da esquerda como intrinsecamente antidemocrática é frequente em suas colunas.
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A inacreditável "crítica" ao "vermelho" das manifestações expõe como as vitórias da ultradireita começam antes e vão além das eleições. A criminalização da esquerda preparou terreno para o bolsonarismo e agora se apresenta como "bom senso" em opiniões na mídia e nas redes.
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O editorial da Folha e os furos jornalísticas sobre o empresariado são sinais preocupantes, pois expõem tanto que parte das elites usa da ameaça à democracia para impor uma política econômica, quanto que outra parte delas prefere qualquer coisa à esquerda, mesmo que moderada.
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Em 1960, a população da então Guanabara votava em massa em um assassino como Tenório Cavalcante, que teve 23,10% dos votos. As décadas posteriores consagraram personagens semelhantes e fizeram do "matador" um dos tipos políticos aceitos, sem maiores sobressaltos, na cena política
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Perde-se a dimensão política da ultradireita, que não se restringe a revelar um verdadeiro Brasil, mas atua para mudar valores, dar novo peso a certas experiências e conferir protagonismo a outros atores. Bolsonaro não revelou o verdadeiro Brasil, mas criou um outro Brasil.
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Não é isso que setores da esquerda (inclusive alguns dos quais sou próximo) fizeram. Eles repetiram muitas vezes os velhos erros do petismo em suas críticas ao brizolismo carioca. Mais do que clamar pela corrupção como tema evidente da esquerda, é fundamental pensar como fazê-lo.
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2- A dolarização não é uma simples política econômica, mas uma afirmação moral que pretende enterrar definitivamente a capacidade da Argentina de determinar soberanamente os rumos da sua economia, ao submetê-la a um ideal abstrato de "mercado global".
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A cobertura do The Guardian é bem mais detalhada e incisiva que a da imprensa brasileira. Não é possivel que isso não soe estranho para todos.
jornal gringo: dezenas de milhares exigem impeachment
jornal brasileiro: ato gera trânsito
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3- Em seguida ao texto com uma série de sensos comuns sobre as esquerdas, há o retrato simpático do antigo assistente de Golbery do Couto e Silva, um dos personagens que mais intensamente conspiraram contra a democracia brasileira no século XX.
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Alguns dos economistas mais influentes consideram a economia uma ciência exata, em um misto de ignorância e delírio. Se a ciência econômica supera os conflitos sociais de forma objetiva, nada mais coerente para estes do que o flerte com o autoritarismo, que pode impor "o certo".
Não sei bem qual a diferença entre isso e a diatribe do PR anterior contra os conselheiros da ANVISA e outros órgãos técnicos da Saúde. Nesses casos ficou estabelecido que se tratava de “ataques à Ciência”. E agora?
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3- Nada mais distante do ideal de Trump, que vendia os Estados Unidos como mais isolados do mundo e supostamente senhores do próprio destino. A comparação também demonstra, infelizmente por meio de uma pedagogia trágica, como a ultradireita assume outras feições na periferia.
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A coluna do Ives Gandra, na
@folha
, é um bom exemplo de certa tradição da direita brasileira que ganhou nova força nos últimos anos. O jurista conjuga um conceito de democracia autoritário, próximo ao de Reale, ao elogio das Forças Armadas e à defesa do predomínio das elites.
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Gaspari usa os professores como exemplos de supersalários. Gostaria de exemplos. Curiosamente não menciona os militares, as "fontes amigas" da sua historiografia duvidosa, incapaz de refletir sobre os limites do seu matetial "privilegiado".
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Hoje, para mim, o risco passa muito mais pelo golpe do que pela urna.
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5-Gaspari naturaliza uma visão idealizada da Ditadura, desmentida pela melhor historiografia nacional, ao mesmo tempo em que reforça as representações da República de 1988 que fundamentam explícitos projetos golpistas contemporâneos, organizados em torno do atual presidente.
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1- Sobre a carta/discurso esboçada para um eventual pós-golpe, se destaca a sobreposição entre a tradição autoritária militar e as linguagens políticas que ganharam novo fôlego, à direita, nos últimos anos. O documento revela parte da composição da ultradireita brasileira.
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Ao retratar nas manchetes a vítima de um crime terrível no Rio como "torcedor do Fluminense", os jornais reforçam o imaginário de violência relacionado ao futebol e não destacam um ponto central: trata-se de vítima da política de armas e da truculência rotineira das polícias.
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É por meio dos textos de muito desses personagens, com grande espaço na imprensa, que aos poucos naturalizamos os autoritarismos de hoje, que se tornaram aceitáveis e "normais" no debate público brasileiro.
Esta é a coluna:
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O texto naturaliza a autoimagem não só do bolsonarismo, mas de boa parte das ultradireitas contemporâneas. De Trump a Milei, passando por Orban, o campo se vende como representante do "verdadeiro povo" e representa as esquerdas como "elitistas" e hegemônicas.
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O tosco projeto de extinção da UERJ expõe um dos mais perversos processos da ultradireita: a lógica de distinção pelo grotesco. Criou-se um público que demanda cada vez mais agressões e absurdos, o qual é constantemente alimentado por atores políticos que buscam por aí holofotes.
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O mote de que "deveríamos olhar para a frente" produziu após a Ditadura de 64, e ainda produz, desastres institucionais evidentes. À época era difícil prever muitos deles. Insistir hoje no mesmo erro me parece bem míope, ou uma postura pautada apenas pelos próprios interesses.
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1- O debate em torno do uso do conceito de golpe tem ignorado um ponto central: a clara clara relação entre a derrubada de Dilma e o governo B*lsonaro. O processo de impeachment teve como protagonistas inúmeras figuras próximas ao bolsonarismo, de lavajatistas à pauloguedistas.
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6- Não foi Bolsonaro o primeiro a levar ao Poder Executivo do pós-88 o conceito de "democracia" cultivado por parte das elites da ditadura de 64, construído por personagens como Miguel Reale, Roberto Campos, dentre tantos outros.
1
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7- Tais ideais entraram - ao lado dos militares, mas não apenas por suas vozes- outra vez pela porta do Palácio do Planalto pelas mãos de Michel Temer, personagem que mereceu cobertura muito simpática dos grandes jornais e de personagens como Gaspari.
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4- Distintamente da corrupção das esquerdas, Heitor "Vivia num modesto apartamento em Copacabana, fazia traduções e era um senhor de poucas palavras." Gaspari continua em rasgados elogios: "A fábrica que produzia figuras como Barreto e Heitor Ferreira não existe mais."
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Sob o pretexto de denunciar o Brasil anacrônico de Caetano, o texto constrói duas generalizações simplistas: sobre o país contemporâneo e a própria obra do baiano. A retórica se ampara menos em argumentos e mais de um tom irônico, pontuado por anedotas, bem ao gosto das redes.
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4- Já em relação a B*lsonaro, o que mais claramente destoa é a radicalidade do individualismo de Milei. Sem menosprezar o papel de Paulo Guedes para o sucesso da coalizão de 2018, o Brasil de B*lsonaro estava mais próximo de um país pautado por velhas e tradicionais hierarquias+,
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Por fim, vale ressaltar que Mazza interpreta os textos de Schwarz, citados várias vezes, sobre o tema de um modo também problemático. A questão do uspiano não é o elitismo de Caetano ou seu "descolamento" do Brasil, mas uma leitura muito complacente com o capitalismo.
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Por vezes um argumento é fortalecido pela defesa da tese contrária. A coluna do J. Pinheiro de hoje é um amontoado de tantos sensos comuns mal ajambrados que deixa explícita: 1 - a clara motivação antidemocrática das jovens lideranças de ultradireita em 2016;
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5- do que da utopia de individuos completamente autônomos, despidos de qualquer relação não violenta com outros, proposta por Milei. O argentino parece emular, com adaptações à realidade argentina, os usos míticos da história típicos do ultraliberalismo.
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O problema não é o economista falar tantas sandices, mas o espaço que ele continua a ter a despeito delas.
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Neste movimento simplifica-se o país do presente e do passado, que sempre esteve distante das visões hegemônicas sugeridas pelo texto e se construiu a partir de interpretações diversas, marcadas por conflitos e embates relevantes. A hegemonia atribuída à Tropicália nunca existiu
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A entrevista do RCN é um bom exemplo da visão da economia como uma técnica neutra, apenas atrapalhada pela política. É irônico que, décadas depois, outro Roberto Campos vá ao Roda Viva para defender sesta perspectiva, o que sem dúvida sugere continuidades importantes
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Impressiona a covardia desses personagens do submundo bolsonarista, como Ernesto Araujo, quando confrontados publicamente. A coragem das redes sociais logo some e dá lugar a disposição de entregar os companheiros de ontem.
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Normalizar B*lsonaro é, portanto, tornar o golpe rotina e a violência aceitável. No longo prazo, a democracia brasileira não sobrevirá à tolerância ante os que pretendem destruí-la. Muitos dos que apoiam este discurso também podem sucumbir se este desfecho ocorrer.
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7 - Se o ataque ao Estado e às esquerdas é semelhante, no bolsonarismo havia um maior papel de versões reacionárias do cristianismo, católico e neopentecostal, com sua sociedade hierárquica e organizada por hierarquias pretensamente "naturais" de gênero, raça e classe.
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Marcos Mendes é o atual porta-voz oficial de um conceito de democracia perfeitamente coerente com os interesses dos investidores. A democracia seria: 1- O controle por meio de determinada instituições, como o Banco Central, dos impulsos naturalmente autoritários do Estado.
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