Há um "prêmio" criado há 30 anos para homenagear pessoas que conseguiram a façanha de morrer da forma mais estúpida possível. Chama-se Darwin Awards.
Essas são as conclusões que podemos tirar dele:
Primeiro, o óbvio: há muito mais homens no Darwin Awards do que mulheres. A proporção é de 7:1.
Sim, nós somos mais estúpidos.
Não é à toa que homens entre 15 e 49 anos têm 2,9 vezes mais chances de sofrer uma fratura do que mulheres com a mesma idade.
Nos Estados Unidos, homens têm três vezes mais chances de se envolverem em acidentes de trânsito fatais do que mulheres.
Os homens também morrem com muito mais frequência por afogamento ou envenenamento acidental.
A existência de diferenças de gênero na propensão a assumir riscos foi documentada inúmeras vezes.
Esse estudo revisou mais de 150 artigos sobre o tema. E ele é categórico: homens são mais propensos a assumir riscos do que mulheres.
Esse outro estudo aqui mostra que no que diz respeito à saúde, recreação e jogos de azar, mulheres têm menor probabilidade de se envolver em comportamentos de risco do que os homens.
Além disso, elas esperam obter menos prazer com esses comportamentos.
Homens e mulheres também têm características distintas no Darwin Awards:
— homens costumam "vencer" em atividades mais ativas, como explosões, uso de armas de fogo e roubos;
— mulheres "vencem" de maneiras mais passivas, envolvendo impactos, afogamento e exposição ao frio.
Outra obviedade: os jovens "ganham" mais vezes o Darwin Awards.
Isso se dá porque o córtex pré-frontal, a parte racional do cérebro, se desenvolve até os 20 e tantos anos.
Antes disso, jovens estão mais propensos a assumir risco.
Alguns estudos também mostram que os mais jovens apresentam mais atividade de sinalização de dopamina — um neurotransmissor associado ao prazer e à curiosidade — em comparação com os adultos, com picos quando experimentam algo novo ou excitante.
Se você desconhece, esses são os critérios para concorrer ao Darwin Awards:
— O candidato deve estar morto;
— Ele tomou um julgamento incrivelmente estúpido;
— Esse julgamento estúpido resultou na sua morte;
— Ele não tem um problema mental;
— Há boas fontes atestando tudo isso.
A morte da tripulação da OceanGate vem aumentando o interesse por Darwin Awards no Google.
Afinal, como pessoas educadas aceitam alcançar o fundo do mar com um "submarino" controlado por um joystick de menos de US$ 30, sem nenhuma garantia de segurança?
Isso acontece porque inteligência não é o mesmo que pensamento crítico.
Mesmo pessoas inteligentes podem tomar decisões tolas baseadas em:
1 otimismo irrealista;
2 egocentrismo;
3 onisciência;
4 onipotência e
5 invulnerabilidade.
Mortes estúpidas estão espalhadas pela história.
O rei João da Boêmia morreu tentando lutar na Guerra dos Cem Anos. Ele era cego.
O imperador chinês Qin Shi Huang morreu após ingerir pílulas de mercúrio. Ele acreditava que isso traria a imortalidade.
A arquiduquesa Matilde da Áustria morreu ateando fogo em si mesma tentando esconder um cigarro do pai.
Em 1184, 60 nobres alemães morreram após uma briga. Na discussão, o chão onde estavam desabou e eles caíram direto numa fossa. A causa mortis: afogamento por excrementos.
Pessoas comuns também colecionam mortes imbecis.
Charles Stephens morreu tentando descer as Cataratas do Niágara em um barril.
Jimi Heselden, dono da Segway, morreu caindo em um penhasco usando um patinete da Segway.
O padre Adelir morreu tentando voar com balões de gás hélio.
Em 1993, Garry Hoy morreu se atirando contra a janela do prédio em que trabalhava, tentando provar que o vidro era inquebrável. Ele caiu do 24º andar.
Michael Hughes morreu em 2020 após cair de uma altura de 500 metros com um foguete caseiro, tentando provar que a Terra é plana.
Morrer de forma estúpida é mais comum do que pensamos.
As notícias estão diariamente nos jornais: desafios em redes sociais, touradas, parkour, comportamento perigoso no trânsito.
O site do Darwin Awards tem uma lista com exemplos intermináveis.
Entre janeiro de 2008 e julho de 2021, ao menos 379 pessoas morreram tirando selfies.
15% dos acidentes fatais de trânsito são provocados pelo uso do celular ao dirigir.
Embora seja fácil cair na tentação de rir da tragédia alheia, o cerne do Darwin Awards é nos encorajar a considerar as escolhas que fazemos e avaliar os riscos antes de agirmos de forma impulsiva.
Ele também serve como um alerta para os perigos da busca por reconhecimento.
Nós assistimos a estupidez em tempo real aqui mesmo, no Twitter, todos os dias, em cada debate.
Mas esquecemos que mesmo gente inteligente pode agir de forma estúpida e perigosa. Especialmente se for jovem, mais ainda se for homem.
Acredite: a estupidez é uma força da natureza.